quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"Tentei virar a cabeça,

e ela deixou que seus lábios tocassem gentilmente minha face, quase respeitosamente.
Senti seu corpo colado no meu, seus seios intumescidos por baixo do tecido vaporoso, a pressão macia de sua coxa contra a minha, e sua língua tocou meus lábios. Ela lambeu meus lábios.
Estava paralisado pelos arrepios que percorriam meu corpo, humilhando-me e excitando a paixão que me devorava.
- Afaste-se, strega - sussurrei.
Embora dominado pela raiva, não pude impedir a lenta combustão que se alastrava no meu baixo ventre; não pude deter as violentas sensações que, passando pelos meus ombros, desciam pelas costas e chegavam até as minhas pernas.
Seus olhos faiscavam em cima de mim, o pestanejar de seus cílios era mais uma sensação do que um espetáculo que podia apreciar com meus próprios olhos, e novamente ela selou seus lábios nos meus, chupando lubricamente minha boca, provocando-a. Depois recuou e pressionou seu rosto contra o meu.
Sua pele, de uma textura de porcelana, tinha no entanto um toque mais sedoso e suave do que o de uma pluma. Ah, tudo naquela criatura parecia pertencer a uma boneca macia, feita de materiais delicados e mágicos, muito mais dóceis e flexíveis do que a carne e o sangue, muito embora a eles intimamente ligados, de vez que dela se desprendia, numa palpitação rítmica, uma calor que emanava diretamente de seus dedos, acariciando meus pulsos enquanto os manietava. E então o calor de sua língua incendiou meus lábios, contra minha vontade, com uma força úmida, deliciosa e veemente contra a qual eu nada podia fazer.
Formou-se em minha mente conturbada a noção de que ela usava o ardor do meu desejo para me tornar indefeso, qua a alucinação carnal fizera de mim um corpo construído com fios metálicos que somente conduziam o fogo que ela despejava em minha boca.
Ela recolheu a língua e chupou minha boca com seus lábios novamente. Todo o meu rosto formigava. Meus braços e minhas pernas lutavam para se livrar dela e ao mesmo tempo ansiavam por envolvê-la, tocá-la, abraçá-la.
Ela deitou diante da evidência do meu desejo. Não podia escondê-lo. Odiava aquela mulher".

Vittorio, o vampiro: Anne Rice. 1941. p. 54.

Espero que tenham gostado do trecho.
Nessa era vampiresca, é bom ler algo consideravelmente bom.



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